Aprender a viver com a susceptibilidade genética de risco familiar de cancro é o maior desafio que se coloca a quem recebe esta notícia, bem como aos seus familiares. Quando alguém recebe um diagnóstico positivo ou fica a saber que é portador de uma alteração genética, pode passar por diversas alterações emocionais. É frequente verificar-se a presença de sintomatologia ansiosa e depressiva ou o aumento vulnerabilidade emocional. Estas alterações induzem o aparecimento de distress (sofrimento emocional).
Em grande parte das famílias as relações familiares tornam-se mais intensas. Até porque muitas vezes existem familiares que são doentes, e que pela sua experiência de vida estão mais disponíveis para acolher alguém que tenha recebido esta notícia.
Algumas pessoas podem ficar ainda com sentimentos de culpa por poderem ser veículo de transmissão da mutação para os seus filhos. Lidar com a culpa é um desafio que se coloca ao sujeito. Como forma de ajudar a ultrapassar este sentimento, é importante salientar que desta forma os descendentes terão possibilidade de serem estudados precocemente e evitarem também o aparecimento da doença.
Viver com a ambivalência de ser saudável e sentir-se doente, é um outro desafio colocado às pessoas, uma vez que frequentemente têm de se submeter a inúmeros exames clínicos, em hospitais especializados no diagnóstico e tratamento do cancro, o que pode suscitar a sensação de estar doente. Além dos exames, existem também medidas de profilaxia que são invasivas, tais como as cirurgias preventivas/profiláticas, que também podem originar esta sensação.
Uma das maiores alterações que um diagnóstico positivo provoca no sujeito é a alteração do seu estilo de vida. A necessidade de analisar os aspectos positivos de ter recebido a notícia faz com que a pessoa possa tomar medidas preventivas em relação à doença, dando-lhe maior controlo sobre a sua saúde, diminuindo os níveis de distress:
- Programas de vigilância, exames periódicos, cirurgias profilácticas.
- Alteração do sedentarismo, com a promoção do aumento de cuidados com a alimentação, exercício físico, abolição de consumos.
- Procura de estabilidade emocional, tentativa de incrementar as relações interpessoais e familiares, redução do stress e erradicação das suas causas.
Para lidar com este problema e implementar estilos de vida saudáveis é importante procurar apoio dos conselheiros genéticos e de intervenção psicológica.
Maria de Jesus Moura
Psicóloga