O retinoblastoma corresponde a menos de 1% dos tumores pediátricos. A sua idade de aparecimento é habitualmente abaixo dos 7 anos, sendo que cerca de 90% dos diagnósticos são estabelecidos abaixo dos 5 anos (a idade média são os 18 meses).
O retinoblastoma pode ocorrer de forma unilateral (afetando um olho), bilateral (afetando os 2 olhos), multifocal (afetando um olho com múltiplas lesões) ou trilateral (afetando ambos os olhos concomitantemente com o diagnóstico de pineoblastoma). Os tumores bilaterais, multifocais e trilaterais são frequentemente genéticos, enquanto os unilaterais (sendo os mais frequentes) são genéticos em apenas ~10% dos casos.
O retinoblastoma genético resulta de mutações germinativas no gene RB1 (supressor de tumor), em 13q14 (5 a 10% são deleções). O cancro resulta de um segundo evento que leva à perda do alelo wild-type (sem mutação): perda de heterozigotia, ocorrência de mutação somática ou hipometilação no alelo wild-type. Este mecanismo, descrito pela primeira vez para esta síndrome, conhecido como o modelo de Knudson, explica que as síndromes de predisposição para o cancro sejam autossómicas dominantes (o risco da descendência de portador da mutação herdar a mesma é igual a 50%), mas o cancro associado às mesmas seja autossómico recessivo a nível dos tecidos (apenas na ausência de um alelo wild-type a doença se desenvolve). Isto explica porque os cancros não genéticos aparecem de forma mais esporádica, não agregada e em idades mais tardias: necessitam da ocorrência de 2 erros e não apenas 1.
O risco de um segundo tumor primário para portadores de mutação no gene RB1 está estimado em cerca de 20%, sobretudo entre as 2ª e 4ª décadas de vida e em doentes submetidos a radioterapia. Os segundos tumores primários são, por ordem do mais para o menos frequente, o osteossarcoma (~35%), outros tipos de sarcoma (~15%), o melanoma (~7%) e o tumor cerebral (>4%).
A penetrância da síndrome varia com o tipo de mutação e a existência de mosaicismo (co-ocorrência de linhas celulares com e sem mutação). A possibilidade de mosaicismo pode complicar o aconselhamento genético, uma vez que não se pode assegurar um risco nulo para a descendência de casal com filho com mutação aparentemente de novo (não se pode excluir que os pais tenham a mutação em apenas algumas linhas celulares, nomeadamente nas células germinativas, existindo risco de transmissão da mutação à descendência apesar de um resultado negativo em sangue periférico).
Marta Zegre Amorim